O Sítio do Zé

Friday, September 24, 2004

A Tasca

Foi com agrado que vi num jornal a notícia da formação da Liga Amiga das Tascas Antigas (LATA), eu, que me confesso um grande adepto de tascas, li a notícia bastante entusiasmado, notícia que dizia, em resumo, a LATA vai classificar algumas tascas, verificar se têm produtos alimentares de qualidade, bom vinho, higiene e coisas do género que já os fiscais camarários faziam.Claro que perdi logo o entusiasmo!

Uma verdadeira tasca não é higiénica, não tem sistema de segurança contra incêndios, todos os anos embebedam os fiscais da câmara para obterem as licenças e algumas nem a têm, vão lá agora só possuir vinho bom. Todos os Zés conhecem uma verdadeira tasca, a tasca lá do bairro, ou a taberna da terra natal, é um local de culto onde se passam muitas horas do dia a bater uma cartada e a beber barricas de vinho da casa!

Eu julgo que uma tasca, que é tasca, tem de cumprir uma série de princípios:

Para começar, uma tasca raramente tem clientes novos, são quase sempre os mesmos, os quatro que estão o dia todo a jogar às cartas e ao dominó, os que escapam de meia em meia hora do trabalho para beber uma mini e que jogam à moeda ao fim dia para ver quem paga a despesa, os putos do bairro que se sentem uns verdadeiros homens por beberem uma média e o pessoal que gosta de petiscar e beber por pouco dinheiro para depois irem sair à noite animados e com algum dinheiro.

Numa tasca uma toalha de papel, quando há, serve para um dia inteiro, só há uma casa de banho, a rua de trás, ou do lado, só entram homens e as amigas quengas, lá arrota-se alto e peida-se, pois o ar é de todos, fuma-se Gigante, Filtro, Ventil e Português Suave dos antigos e nunca Marlboro, é tabaco de mulher.

Numa Tasca o chão só é lavado no dia do inventário, ou seja, nunca, varrem-se as beatas dos cigarros, as cascas dos tremoços e dos amendoins ao domingo de manhã. O dono tem caspa nos ombros, cabelo oleoso, unhas negras, normalmente coxeia por passar desaseis horas diárias de pé, tem jeito para as sandes de coirato e para fritar carapaus pequenos, que nunca estão menos de quinze dias na vitrine, o resto dos petiscos confecciona a mulher, que troca piadas picantes com os clientes mais velhos.

Os copos do vinho sacodem-se ou enxaguam-se quando se muda do tinto para o branco, à porta assobia-se paras as mulheres que passam, lá dentro fala-se de futebol, diz-se mal do governo e da mulher que está outra vez grávida. Uma Tasca é uma segunda casa para muitos e a única para alguns, numa Tasca está a família que muitos desejavam ter.

Por isto tudo, quero aqui deixar um apelo,a essa liga ASSASSÍNA de tascas antigas, para não deturparem a realidade da verdadeira Tasca, se não os meus filhos vão querer umas isca à portuguesa e têm de ir ao XL!

Um Zé Basta

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